Sei que, às vezes, posso parecer um tanto sonhadora demais - até para
mim mesma - e estive a pensar ao que isso me levaria, quero dizer, o que
poderia me acontecer na pior das hipóteses. Foi aí que descobri que
posso perfeitamente separar, na minha vida, os meus sonhos e a minha
realidade.
Foto: We Heart It |
Eu sonho em
ser uma bailarina profissional, ingressar em alguma companhia de dança e
viajar pelo mundo para fazer o que eu amo, sonho em ter flexibilidade,
equilíbrio, força, concentração, destreza, delicadeza, fluidez e tudo o
mais que seja necessário. Sonho em dançar tão bem quanto respiro. Em me
superar a cada dia - a dor, o cansaço, a ansiedade, o medo. Bater meus
próprios recordes. Vibrar de felicidade por conseguir o que custara
muito esforço. Ser bailarina completa.
A minha realidade é que faço aulas de balé por duas horas duas vezes na
semana, há quatro anos, tendo parado por um ano na metade deste tempo. É
que nunca dancei nenhum repertório, nem fiz nenhum solo, tampouco pas de deux.
E que não tenho tanta flexibilidade quanto gostaria. Nem equilíbrio.
Nem força. Nem todas as outras coisas de que falei. E que considero meu
desempenho nas pontas um tanto quanto precário. A minha realidade é que
assisto vídeos de dança na internet que fazem meus olhos marejarem de
admiração e que, eventualmente, me deixam deprimida, pensando que eu
jamais conseguiria fazer o que aqueles bailarinos incríveis fazem (sei
que a gente tenta fugir dessa coisa do "nunca", mas todo mundo sabe que é
inevitável). A minha realidade é que moro em cidade pequena, onde não
há teatros (exceto por um, totalmente inviável para apresentações de
dança) e que temos sorte de que a nossa escola de balé exista. E que,
talvez, muito provavelmente, terei de deixá-la no próximo ano, devido
aos estudos.
Mas eu não penso em parar de dançar. Não depois de ter experimentado.
Não depois de ter subido nas pontas pela primeira vez. Não depois do som
dos aplausos, nos espetáculos. Muito menos depois de ter aprendido a
ser menos desengonçada (hahaha).
A concepção de sonho e realidade muda na dança. Que parece sonho, mas é
real. Que parece arte, mas, para muitos, é vida. Porém, acho que sou
capaz de discernir até onde posso ir, dentro das minhas possibilidades,
sem ainda analisar a questão de que "nada é impossível". E para dançar, antes de tudo, é necessário manter os pés no chão. Mesmo um salto tem dois pliés.
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